O Aperfeiçoamento do Galope
parte II

O endireitamento

Livros de referência: General Faverot de Kerbrech e Equitação Acadêmica, Gen. Decarpentry

Uma vez obtida a regularização do galope, a definição de seu ritmo e a conservação da cadência, deparamo-nos com os próximo passos, ou seja, o encurtamento e o endireitamento da andadura.

O endireitamento somente será obtido em sua plenitude quando tivermos obtido um acentuado desenvolvimento da reunião, razão pela qual endireitamento e encurtamento devam ser trabalhados simultaneamente, e os progressos obtidos em cada um destes objetivos devem ser explorados alternadamente.

No galope, o cavalo não é naturalmente direito, e sua obliquidade em relação à direção de sua progressão é exatamente a mesma em ambos os pés. Geralmente, o cavalo que é naturalmente infletido para a esquerda, por exemplo, galopa relativamente direito no pé direito. Ambos os membros de sua diagonal direita colocar-se-ão mais ou menos na linha de seu movimento. Os da outra diagonal colocar-se-ão de cada lado desta linha, mas com o posterior mais afastado dela do que o anterior. Neste caso, a curvatura natural do cavalo contrapõe-se à assimetria do galope no pé direito, produzindo um relativo endireitamento. Ao contrário, no pé esquerdo, os desvios se somam, e o cavalo fica marcadamente infletido.

O endireitamento absoluto em todo o comprimento de seu corpo não é nunca natural ao cavalo em qualquer andadura, por causa de sua assimetria congênita, mas é no galope que a curvatura é mais pronunciada, e a tarefa de endireitá-lo nesta andadura é especialmente difícil. Isso somente será alcançado com prolongados exercícios, utilizando a influência das voltas, das figuras, e, em parte, das ajudas do cavaleiro.

Ora, sabemos que, num círculo, com uma certa velocidade, que será tão maior quanto maior for o raio do círculo, as ancas mostram uma tendência de se desviarem para fora, e este desvio é acompanhado por uma maior ou menor inflexão do cavalo para fora. Então, o cavaleiro, alternando entre a curvatura do trajeto e a velocidade do cavalo, tem à sua disposição uma maneira de provocar o desvio dos posteriores e a inflexão do cavalo para um lado ou para outro, e, então, contrapor quaisquer tendências opostas.

Suponhamos, para o nosso exemplo, um cavalo infletido à esquerda. A maneira mais fácil de endireitá-lo é utilizar o círculo à esquerda, que provocará, ao mesmo tempo, o desvio das ancas para a direita e uma inflexão concava para o mesmo lado. Com o mesmo cavalo, no círculo à direita, a velocidade deverá ser relativamente menor, e, para este lado, o exercício deverá ser praticado por períodos mais curtos e com menor frequência.

Também certas ações de mão tendem a endireitar o cavalo infletido e assimétrico. Considerando o mesmo cavalo infletido à esquerda, podemos afirmar que a ação da rédea interna esquerda, direta, atuando em oposição ao movimento de impulsão dos posteriores, fixará as espáduas e fará a garupa deslocar-se para a direita, e isso será tão mais acentuado quanto mais rígido lateralmente estiver o pescoço, isto é, mantido mais alto. E a rédea direita, contrária, imprimirá nas espáduas uma sobrecarga que, a cada lance, as empurrarão para a esquerda, para a frente das ancas, com a garupa relativamente fixa na sua direção, e este efeito tende a encurvar o cavalo à direita.

Os movimentos circulares e as ajudas de mão podem, e devem, ser combinados de maneira a endireitar o cavalo. Assim, temos duas sugestões de trabalho para o cavalo do nosso exemplo:

- Num círculo à mão esquerda, de raio uniforme, alongar a andadura e guiar o cavalo com a rédea direta esquerda, a mão um pouco mais alta, para prevenir o encurvamento do pescoço.
- Numa certa velocidade constante, que não poderá ser muito pequena, reduzir o círculo com a rédea contrária direita.

As pernas poderiam, também, ser utilizadas para o endireitamento do cavalo, porém, qualquer assimetria no seu uso pressupõe um risco de provocar a desunião do galope ou a mudança de pé. É melhor dispensar este recurso e utilizar a ação de pernas simetricamente, apenas para manter a impulsão, quando necessário.

Os efeitos da curvatura do trajeto e das ajudas de mão, isolados ou em combinação, devem ser praticados alternadamente, e o cavalo deve ser submetido a um efeito e a outro em frequente alternância. Deixar o círculo pela tangente vai permitir ao cavaleiro manter, por alguns instantes, o endireitamento obtido naquele trabalho, voltando ao círculo quando este endireitamento for perdido, e assim sucessivamente.

Os resultados deste trabalho somente farão efeito após uma longa e persistente prática, na qual o cavaleiro jamais deverá castigar o cavalo quando seu objetivo não estiver sendo atingido, pois isso acarretaria a perda da regularidade da andadura.

Encurtando o galope

Ao mesmo tempo que o cavaleiro se esforça em endireitar o galope, é preciso tentar seu encurtamento.

Para tal, o cavalo deve ser colocado em um galope um pouco mais amplo que o normalmente utilizado no trabalho de exterior, e, uma vez assegurados a regularidade, equilíbrio e calma nesta velocidade, trazemos, imperceptivelmente, o cavalo de volta a sua velocidade usual.

A influência de um terreno levemente em declive é muito favorável a este encurtamento. Instintivamente, o cavalo toma uma atitude que alivia o peso sobre o ante-mão, enquanto a declividade impede o encurtamento das passadas dos posteriores.

As mãos devem ser utilizadas em sucessivas ações para cima a cada lance de galope, e não em uma ação contínua. O cavaleiro deve tentar o encurtamento das passadas dos anteriores, enquanto tenta evitar, tanto quanto for possível, o precipitar do pousar dos posteriores. Ao mesmo tempo, deve direcionar seus esforços para a sistemática colocação das espáduas à frente das ancas, pois a tendência do cavalo de "atravessar-se" e infletir-se é sempre consideravelmente aumentada com o encurtamento do galope.

Em todo este trabalho, a posição, o assento e a elasticidade do cavaleiro têm uma especial importância. Ele precisa permanecer unido ao cavalo, inclinando-se para a frente somente o necessário para contrapor-se aos efeitos da inércia, e para o interior das curvas, se necessário, somente na medida exata requerida para combater a força centrífuga, sempre evitando sobrecarregar o postmão. Seu peso deve ser suportado mais nos estribos que na sela, de maneira a dar completa liberdade à coluna vertebral e ao dorso-rim do cavalo. As pernas devem permanecer passivas, simetricamente colocadas, preferivelmente mais avançadas que recuadas, de maneira a trazer os posteriores mais sob a massa que precipitar sua distensão.

Uma vez que o retorno da velocidade mais rápida para a velocidade normal do cavalo possa ser obtido facilmente em um leve declive, então no plano, e, finalmente, em um leve aclive, o cavaleiro, progressivamente tenta prolongar o encurtamento. Assim procederá sucessivamente, até atingir a velocidade desejada, seguindo sempre a mesma progressão, e utilizado da mesma forma os terrenos inclinados.

A velocidade mínima que deve ser obtida e mantida com facilidade em exterior é aquela na qual, no contra-galope, o cavalo possa galopar em perfeito equilíbrio num círculo de mesmo diâmetro da largura de nosso picadeiro ou pista, de maneira que possamos continuar esta ginástica a galope sem o temor de que nosso espaço exíguo possa causar alguma desordem no contra-galope.

O cavalo deve ser exercitado alternadamente nas mudanças de velocidade, de direção e encurvatura. O trabalho de encurtamento e o de endireitamento do galope, como já vimos, devem progredir paralelamente, e um auxiliar o outro.

Na sequência do trabalho do galope, o cavaleiro utilizar-se-á dos mesmos procedimentos utilizados no trote e no passo, levando sempre em conta a assimetria da andadura, que algumas vezes se soma, e em outras se opõe, à inflexão permanente e natural do cavalo.

A descontração do maxilar será procurada, inicialmente, com cada rédea separadamente, e, após, com todas as combinações possíveis, até que a descontração seja obtida, suave e instantaneamente, com a mais leve pressão dos dedos nas rédeas.

O galope básico deve ser relativamente lento, mas apenas na medida em que o cavalo possa sustentar-se facilmente em todos os exercícios de picadeiro, esteja galopando justo ou no contra-galope.

Quando o encurtamento do galope estiver bem confirmado, o cavaleiro poderá dar seu toque final no completo endireitamento do cavalo nesta andadura. Para tal, continuará evitando, tanto quanto possível, qualquer interferência das pernas, limitando sua ação à sustentação da impulsão.

O "atravessamento" do cavalo será combatido tanto quanto possível fazendo uso do muro do mesmo lado, e, consequentemente, pelo uso do contra-galope sobre a pista. Se absolutamente necessário, a influência da parede pode ser reforçada por meias-paradas, e essas meias-paradas serão mais frequentemente necessárias quando o cavaleiro, dispensando a parede, começar a trabalhar longe da mesma.

Uma vez assegurado o completo endireitamento do cavalo junto ao muro, o cavaleiro deve procurar afastar-se cada vez mais dele, procurando manter seu cavalo perfeitamente direito ao longo de linhas retas. Depois, numa progressão cautelosa, tentará "ajustar" o cavalo a linhas curvas, certificando-se que os posteriores percorrerão o mesmo caminho dos anteriores, sem nenhum desvio lateral.

Para obter este resultado em contra-galope, muitas vezes pode ser necessário aumentar a inflexão do galope, e, algumas outras, até mesmo forçar uma inflexão incorreta, pedindo, por exemplo, para o cavalo galopar em um círculo à direita, no pé esquerdo, infletindo-se levemente à direita.

Finalmente, por sua própria conta, sem quaisquer interferências das ajudas do cavaleiro, o cavalo deve manter sua inflexão ajustada à curvatura do trajeto que percorre, mantendo-se num determinado pé, num galope cadenciado e ritmado, sempre com vontade de alongá-lo tão rápido quanto as mãos abrem a barreira que ordena seu encurtamento temporário.




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