O Aperfeiçoamento do Galope
parte I

O desenvolvimento do ritmo e a busca da cadência

Livros de referência: General Faverot de Kerbrech e Equitação Acadêmica, Gen. Decarpentry

Das andaduras do cavalo, a que mais sofre na sua forma no início do treinamento é o galope. O desequilíbrio causado pelo peso do cavaleiro, potencializado pelo fato do galope ser uma andadura assimétrica, faz com que se acentuem as diferenças entre os lados do cavalo. O galope é, então, a andadura onde é mais difícil de obter o endireitamento.

Diferentemente do trabalho de transições, para o galope ou a partir do galope, que só deve ser enfrentada quando o cavalo já tiver um certo desenvolvimento nos trabalhos de passo ou trote, o aperfeiçoamento do galope deve ser trabalhado tão logo o cavalo esteja em condições de tomar esta andadura, nos dois pés, seja a partir do trote ou a partir do passo.

Nossa preocupação inicial será a consolidação da andadura em ambos os pés, com a manutenção do ritmo, fazendo com que o cavalo consiga caracterizar os três tempos da andadura, procurando, ainda, a regularização da cadência, independente das mudanças de direção. Esse trabalho inicial deve ser feito num terreno amplo, de maneira a evitar curvas bruscas. O trabalho deve ser iniciado com leves sinuosidades, e, aos poucos, ir evoluindo para voltas mais apertadas, chegando a serpentinas e "oito de contas".

A maneira mais fácil de proceder, se, por exemplo, o cavalo está galopando em linha reta no pé direito, é gradualmente dirigir o cavalo num amplo círculo para a esquerda, com um raio suficiente para impedir uma imediata perturbação da andadura. Tão logo o galope perca sua regularidade, o cavaleiro trará de volta o cavalo para um amplo círculo à direita, e continua neste círculo até que o galope à direita seja reestabelecido em sua regularidade. Devemos tentar detectar os primeiros sintomas de alteração do galope, e, tão rápido quanto possível, começar o círculo à direita antes que o cavalo desuna ou mude de pé. Mas, se não obtivermos sucesso em antecipar este momento, geralmente é suficiente colocá-lo em círculo para o mesmo lado do pé original, e a andadura será reorganizada após algumas poucas passadas incorretas. O cavaleiro deve procurar interferir o menos possível, conservar-se flexível e ereto, e preservar a constância de suas ajudas. Se ele acha que o retorno ao pé original está demorando de maneira imprópria, ele deve diminuir a velocidade e progressivamente retornar à andadura que precedeu o galope (trote ou passo), e, enquanto permanece no mesmo círculo à direita, calmamente parte no pé correto, toma novamente uma linha reta e retoma o trabalho anterior.

É de grande importância que o cavalo nunca seja punido ao mudar de pé ou desunir o galope, senão teremos grande dificuldade, mais tarde, para obter as mudanças de pé no ar, e erradicar da memória do cavalo a punição que ele espera receber.

Com o passar do tempo, não será necessário fazer o círculo completo para o lado correspondente ao pé que o cavalo galopa. Para reestabelecer a regularidade do galope original, serão suficientes algumas poucas passadas neste círculo, e, finalmente, apenas reorientar o cavalo naquela direção. Assim, a perturbação da andadura causada pelo contragalope irá gradualmente diminuindo, e será possível executar serpentinas de laços cada vez mais apertados, controlável para ambos os lados, ao desejo do cavaleiro.

Devemos insistir com este exercício até obtermos a perfeita regularização do galope nos dois pés, e partiremos, então, para os círculos a galope, e trabalharemos a diminuição do diâmetro desses círculos através de espirais em direção ao centro. Porém, não devemos diminuir o círculo a um diâmetro menor que a velocidade de nosso galope permita, pois, nesse estágio, só conseguiríamos fazer isso com perda de impulsão.

O êxito nesses exercícios iniciais será muito fácil de obter num dos pés de galope, e via de regra, muito difícil no outro. A exceção são cavalos com colunas muito flexíveis e já engajados por natureza, mas esses são os virtuoses. Devemos insistir no lado pior, até que a simetria seja alcançada.

Em todo este trabalho, a correção da posição do cavaleiro e sua elasticidade exercem uma especial importância. Ele deve esforçar-se para olhar na mesma direção do cavalo e evitar inclinar-se para a frente na direção do pé em que o cavalo galopa, nem deixar o outro lado de seu corpo para trás. O cavaleiro deve estar unido ao movimento. A pressão do assento na sela e dos pés nos estribos deve manter-se tão igual quanto possível. As pernas devem permanecer à mesma distância da barrigueira, simetricamente juntas ao corpo do cavalo, a quem elas devem abraçar com a mesma pressão sempre que possível.

Todos os movimentos, todos os gestos, quaisquer modificações na distribuição do peso devem ser evitadas. "Passividade elástica" e o mínimo de interferência são as metas a serem alcançadas.

Os mesmos princípios devem ser aplicados às mãos, cuja ação deve-se limitar ao mínimo necessário para produzir as mudanças de direção, procurando utilizar a influência da direção das figuras, em vez das ajudas do cavaleiro, para obter a consolidação do galope.

Na maior parte do tempo, as pernas permanecem passivas, devendo somente serem utilizadas para garantir a impulsão, com uma ação simultânea e simétrica.

As rédeas devem enquadrar o cavalo de maneira constante e leve. Uma volta para o mesmo lado do pé de galope deve ser sempre pedida pela rédea de fora, pois esta colocará as espáduas diante das ancas, e uma volta para o lado oposto ao pé de galope, por uma rédea de abertura, tão discreta quanto possível, evitando provocar, por reação, o derrapamento das ancas.

Devemos tentar não "obrigar" o cavalo a permanecer no mesmo pé de galope, porém, nossa insistência deverá mostrar-lhe o que queremos, então, sem forçá-lo, o que provocaria a desunião ou a troca de pé, permiti-lo "ir adiante" até obtermos o que desejamos.




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